quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os crentes precisam tratar melhor os disciplinados. Disciplina serve para corrigir, e não para mandar pro inferno


Todo presidiário, quando cumpre a pena, deixa a cadeia e tenta se ressocializar, tem muita dificuldade de aceitação ante a sociedade. Pedir um emprego, conseguir um estágio ou ser aceito num grupo social quando tem estampado no currículo “passagem pela cadeia” deixa muitos ex-detentos à margem dos centros que envolvem seres humanos.
Tenho notado que isso tem acontecido com os chamados “disciplinados” das igrejas. Crentes que um dia pecaram e precisaram passar por disciplina sabem bem o que é isso. Muitas portas dentro da casa do Senhor são fechadas por causa desses acontecimentos.
É lógico que algumas posições na obra de Deus carecem de bom testemunho, nome limpo diante da igreja e isenção de corrupção espiritual. Mas isso tem se generalizado por vários setores eclesiásticos, desde dirigir um simples órgão de louvor até alcançar uma posição ministerial. Ou não. Às vezes, basta ser um simples membro.
E essa atitude contra os disciplinados não é defendida pela Bíblia, assim como os presos não são excluídos explicitamente pelo Estado. Da mesma forma que a sociedade é taxativa contra ex-presidiários, muitos dentro da igreja têm essa mesma atitude em relação àqueles que um dia passaram pela “caneta”.
O agravante é que, sem apoio, compreensão e perdão, esses crentes disciplinados se sentem isolados e acabam procurando alternativas para ter liberdade de comunhão. Isso porque, mesmo com o pedido formal de reconciliação ante a Igreja, as pessoas não liberam esse perdão a ponto de esquecer o passado.
Existem pessoas que caem em pecado e são disciplinadas. Até aí, nada de anormal, até porque isso é bíblico. A questão está após o período de disciplina. Uma pessoa que é ativa na igreja, por exemplo, não perde apenas as atribuições na casa do Senhor, como perde amigos, perde confiança e perde a liberdade de viver em paz por conta do exclusivismo praticado por aqueles que até então estavam ao seu redor.
Conheço uma história de um pastor que disciplinava os crentes como se esse tipo de correção fosse um chicote, usado para açoitar qualquer um, a qualquer hora do dia. Esse mesmo pastor chegou a disciplinar uma irmã na entrada de uma agência bancária, e puniu outra irmã em pleno culto de domingo.
É um típico caso de despotismo a bel prazer e sem misericórdia. E aí, vem uma bola de neve. Acuado, o disciplinado acaba deixando de ir à igreja ou procurando outra denominação como saída para ser um membro formal e atuante. Com isso, vem o rótulo de rebelde, cru, frio, pecador e desviado.
Essa é a realidade de muitos disciplinados nas igrejas atualmente. E o pior: alguns irmãos deixam de confessar seus erros dignos de correção pública temendo sofrer essas retaliações e perder certos prestígios.
As pessoas devem se conscientizar de que disciplina é, sim, uma forma de melhorar a conduta diante de Deus. Ele próprio corrige por amor aos Seus filhos (Hb 12.6-8), diferentemente do que alguns fazem, como se participassem de um júri que define a pena de um acusado. Muitos crentes esfriam na fé porque durante os momentos de correção, quando precisaram de um braço estendido, acabaram sendo empurrados para longe do círculo dos irmãos.
A disciplina é uma linha de dois extremos: de um lado, o amor por parte da igreja que a aplica; do outro, a humildade e o quebrantamento por parte daquele que é disciplinado. Paulo, ao falar sobre o assunto, lembrou que os irmãos não devem abandonar o disciplinado, como muitos fazem hoje em dia.
“Agora é o momento de perdoá-lo e confortá-lo. Do contrário, ele poderá ficar tão amargurado e tão desanimado que não será capaz de reabilitar-se. Assim, eu lhes peço que mostrem a ele agora que vocês verdadeiramente ainda o estimam muito. Outra razão para perdoar é não deixarmos Satanás, com a sua astúcia, obter vantagem sobre nós; pois bem sabemos o que ele está procurando fazer”, disse o apóstolo, em II Co 2.7, 8, 11 (Bíblia Viva).
É bom que os cristãos se lembrem dessas palavras de Paulo. Crentes disciplinados precisam de um apoio. Do contrário, Satanás agradece pelo abandono dos caídos.

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