sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A vista grossa para os necessitados: “se eu estou bem, por que devo me preocupar com os outros?”


A parábola mais que conhecida do bom samaritano dá uma aula de compaixão com o próximo (Lc 10.25-37). É exaustivamente pregada nos púlpitos, usada em canções e sermões. E todo mundo bate palmas para o bom samaritano, vindo de uma terra inimiga dos judeus, que ajudara o homem que descia de Jerusalém a Jericó.


Mas é sempre importante analisar os outros personagens dessa parábola: o levita e o sacerdote. Bom também é refletir sobre o comportamento que eles tiveram e como é tão fácil verificar essa mesma atitude nos dias atuais.

Jerusalém era o centro da adoração dos judeus. De lá, vinham o sacerdote e o levita. Provavelmente, estavam voltando de mais um culto, quem sabe (apesar de a Bíblia não dizer isso). O certo é que era mais um dia seguindo pelo perigoso trajeto cheio de bandidos e assaltantes que levava até Jericó.

Foi lá que depararam com um homem que havia sido espancado e humilhado por detratores desconhecidos. Pior que isso, esse coitado foi deixado no chão quente, no deserto causticante, na solidão dolorosa e humilhante.

Era de se esperar que o primeiro que passasse estendesse a mão, principalmente se fossem pessoas responsáveis, bem quistas e bem vistas. Mas não foi essa a atitude do sacerdote e do levita. Ambos simplesmente ignoraram uma pessoa necessitada, mesmo sendo quem eram e tendo o nome, a função e a responsabilidade que tinham.

Só que se engana quem pensa que esse tipo de comportamento ficou nas areias da estrada de Jerusalém a Jericó, esquecido no passado. Pessoas notáveis - com ou sem cargos - dentro da igreja continuam esquecendo os feridos na estrada da vida.

Basta caminhar por aí para notar o abandono que padecem os carentes, os sofríveis, os invisíveis, os feridos por garras opressoras, os definhados pela dor de chagas espirituais, morais e psicológicas. São pessoas pelas quais ninguém dá a mão pra levantar, o braço pra segurar, o ombro pra acolher e as costas pra carregar.

E o que fazem os egoístas? Fazem vista grossa para esses necessitados. São pessoas que simplesmente relevam qualquer sofredor que esteja no caminho. Suas alegrias e suas euforias cegam-nas de uma forma extremamente egoísta.

Quantos ficam tão histéricos, nas suas clássicas zonas de conforto, cheios de si, sem se preocupar se há alguém já morrendo por abandono? O seu próximo, na verdade, é aquele que tem os interesses iguais aos seus. Esse, sim, recebe qualquer mão amiga. Mas se não condizer com sua redoma inacessível – leia-se: pessoas marginalizadas, crentes trôpegos e gente sem um nome, um status ou um poder aquisitivo semelhante – não merece nenhum tipo de cuidado.

É por isso que João enfocou tanto no amor ao próximo. Não adianta de nada passar horas cantando nos cultos, falando em línguas estranhas, profetizando e recebendo altas promessas da parte de Deus se não haver cuidado com o necessitado ou, pior, se fingir que não existem pessoas precisando de ajuda. E o apóstolo é ainda mais enfático: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (I Jo 4.20).

Da mesma forma que costumamos falar que amor tem que ser prático, e não só de palavras, o ódio não se resume apenas no rancor, mas também nas atitudes de desprezo, abandono, complacência e desamor. Há gente nas estradas à beira da morte não só porque foram solapadas por golpes da vida, mas também porque gente egoísta e hipócrita não soube ajudar.

Logo, se as pessoas agem como o sacerdote e o levita, elas precisam rever os seus conceitos de compaixão.  É muito fácil abraçar os nossos compadres, não existem problemas quando folgamos e nos congratulamos com os que estão no nosso nível de estabilidade. Mas se não olharmos para os feridos na estrada, como o bom samaritano fez (e, lógico, como o próprio Cristo, ao morrer na cruz), deixaremos de priorizar o amor que o Senhor também nos estimula a praticar.

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