quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Vidas perdidas, abismos infindos: a realidade da evangelização longe dos grandes centros


Você é um crente que está disposto a dizer “Senhor, eis-me aqui, envia-me a mim”? Você é sincero ao cantar “eu quero trabalhar pra meu Senhor/ levando a Palavra com amor”? Permita-me citar apenas dois casos de disposição para, de fato, trabalhar para o Senhor. Ao final, tente responder para si mesmo se você ainda mantém sua sinceridade e disposição.

Num distrito de algum município, com apenas três mil habitantes, os cultos são realizados num dia de semana. Só quem comparece ao trabalho é o dirigente e algum irmão que ele leva da cidade, porque não há nenhum crente nesse distrito. No máximo, algumas crianças ficam gritando e brincando por perto. O culto, por ser de pregação, é realizado do lado de fora de um pequeno salão alugado pela igreja sede.

Não há ninguém nas ruas, a não ser algumas pessoas que estão sentadas nas calçadas de suas casas, há cerca de 50 metros. Mas logo elas se recolhem e fecham as portas de suas casas. Depois, ligam a TV bem alta para o "barulho dos crentes" não atrapalhar a novela. O fim do culto se aproxima, e vila está deserta. Os únicos barulhos que se ouvem são o de um bar repleto de senhores bêbados e combalidos e o de uma pequena capela cheia de velhinhas beatas e extremamente religiosas.

A pregação é feita num sonzinho fraco, com muito médio, parecendo alto-falante de feira livre. Na hora do convite, a mensagem é pregada, mas o retorno é pouco. No máximo, aparece um bêbado se convertendo. É o mesmo da semana passada. E assim segue. Os irmãos desmontam o som e voltam pra cidade.

O segundo caso não é muito diferente. O local também é parecido. Campanha evangelizadora, domingo, 15h, 39° C. Pouquíssimos irmãos saem ao campo para evangelizar. As ruas estão desertas, mas os senhores estão nos bares, jogando dominó e bebendo a cachaça de sempre, enquanto os jovens se divertem nos campos de futebol.

Os irmãos caminham sob um sol escaldante, entregam literaturas, mas elas, em vez de lidas, são rasgadas minutos depois de os irmãos saírem. Eles batem em algumas portas, mas ouvem sonoros “nãos”. Ninguém quer ouvir “ladainha da lei de crente”. Outros dizem “eu já tenho Jesus no coração”. Há quem também diga “vocês são inimigos de Maria”, ou ainda “se for pra deixar meu são Francisco, eu não quero”.

Os irmãos retornam para a igreja. Mais um domingo sem almas, apesar de os evangelizadores se desdobrarem em busca de vidas para Jesus. O dia sem conversões não foi muito diferente dos demais. No ano inteiro, pouco mais de uma dúzia de pessoas aceitaram a Cristo na cidade inteira. Uma média de uma conversão por mês. Apenas.

Temos vistos cenários iguais ou piores do que estes Não importa se é longe ou perto, num sítio ou numa favela, num bairro elitista ou numa vila de esgoto a céu aberto. Casos como estes citados são a realidade de uma seara carente de ceifeiros. Lugares assim são tão difíceis, que os crentes locais, apesar de serem fervorosos e não largarem Cristo por nada, sabem que a resistência dos ímpios é muito forte a ponto de o Evangelho ser pregado, mas o resultado não ser eficaz há um bom tempo.

Será que, após analisar apenas dois casos da realidade de evangelização desses lugares, as pessoas ainda sairão cantando à revelia que estão dispostas a se gastarem para Jesus? Será que o emocionalismo simples de conhecer histórias chocantes similares faz com que a conversão de vidas tão oprimidas se torna instantânea? Será que ao chegar num lugar desse, onde os mais velhos se entregam à idolatria ferrenha e os mais jovens estão mergulhados na prostituição e nas drogas, basta apenas chegar, gritar no microfone e as almas virão irresistíveis a Jesus?

O Senhor procura obreiros que se entreguem de corpo e alma, sem interesses em recompensas terrestres, que se dediquem a pregar em lugares de intensa resistência. É claro que Ele tem à disposição homens dispostos à Sua causa, mas quem quer se arriscar? Deus tem usado muitos dos Seus filhos para pregar em universidades conceituadas, poderosas empresas, grandes colégios e contingentes populacionais elitistas, mas Ele também está à espera de cristãos que abdiquem dos confortos e luxos para socorrer almas de lugares distantes, sem cultura, sem projeção e sem visibilidade.

Deus ordenou para Jonas: “Levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a mensagem que eu te digo” (Jn 3.2). E o conselho dele para cada crente é o mesmo: levante-se, vá e pregue

Nenhum comentário:

Postar um comentário